domingo, 27 de janeiro de 2013

Prefeito de Marajá do Sena revela série de problemas da cidade e planos para melhorar situação

Correio Braziliense e O Imparcial trouxeram durante esta semana a série “O Brasil que ninguém vê” e na edição da última sexta-feira (25), o município maranhense de Marajá do Sena foi abordado. Uma cidade que sofre com a falta de iluminação pública, água encanada, agências bancárias e outros serviços. Diante da repercussão e da situação lastimável de um das cidades mais pobres do país e quem tem sua população vivendo na extrema pobreza, a equipe de O Imparcial entrevistou o prefeito da pequena cidade. 

Edvan Costa (PMN), 45 anos, reeleito para administrar Marajá do Sena com 2.459 votos, o que corresponde a 46,40% da preferência do eleitorado. Além da disputa acirrada com a segunda colocada, ainda enfrentou seu vice na última eleição. Casado e pai de quatro filhos, Edvan assume pela segunda vez o desafio de chefiar o executivo de um dos municípios mais pobres do Maranhão.

Com pouco mais de oito mil habitantes o município não tem estrada de acesso, fica isolado durante o período chuvoso. Não possui cartório, hospital e tem dificuldades para receber e escoar mercadorias, o que acaba aumentando uma série de dificuldades. O prefeito defende que a sede do municipio deve mudar de local.


Confira a entrevista:
O Imparcial - Quais as expectativas para o segundo mandato?

EC - A gente tá com expectativa porque tá chegando eleições para deputado, governo, senador então o nosso maior problema é o isolamento da MA-223 que liga Marajá do Sena a Paulo Ramos. É o que gera maior pobreza no município porque não temos como transportar a produção do município, então fica tudo isolado.
O Imparcial - A maior dificuldade do município é a falta de estrada?

EC - Fica tudo difícil. O salário dos servidores é pago em Paulo Ramos porque o banco funciona lá e o comércio é lá. Tudo depende daquela estrada. A governadora tem nos prometido junto com deputados que vai dar ordem de serviço à estrada. Já foi feito projeto e licitado. A empresa que ganhou sempre fala que tá dependendo dos recursos do BNDES. A governadora já assinou o convênio e disse que nossa estrada tá incluída. Nossa esperança é da estrada sair antes da eleição agora.

O Imparcial - O que o município tem conseguido fazer para melhorar as vias de acesso?

EC - Não conseguimos construir a estrada com recursos próprios, o que a gente tem feito é uma ponte, fazer uma raspagem, tapar buracos para facilitar o acesso, Mas no período das fortes chuvas, ninguém consegue trafegar no barro liso. O município é pequeno e com pouca arrecadação. Só consigo pagar funcionário em dia e os fornecedores.
O Imparcial - Com o grande comércio e bancos funcionando em cidades vizinhas como fica a arrecadação do município?

EC - No verão a população gasta em torno de R$ 50,00 para ir a Paulo Ramos almoçar, receber salário, Bolsa Família. Mas quando é no inverno leva três dias para ir e voltar e acaba dormindo lá e gastando todo o dinheiro em Paulo Ramos mesmo. Então a nossa cidade fica sem movimento de dinheiro. É como dizem, Paulo Ramos é uma cidade e duas prefeituras, porque todo movimento da nossa arrecadação é gasto lá.

O Imparcial - Existe alguma parceria com o município de Paulo Ramos?

EC - Não existe, inclusive, essa estrada de 48 km de Paulo Ramos a Marajá do Sena, onde 20 km é de asfalto e 23km é de estrada de chão, desses, 18 km são de Paulo Ramos e apenas 6 km são de Marajá do Sena. Mas quem faz a manutenção de toda estrada sou eu. Paulo Ramos não ajuda com nada.
O Imparcial - E a preocupação com o início das chuvas? Quais projetos para solucionar o problema?

EC - Começaram a cidade num lugar muito baixo. É um caminho de acesso de água e o canal que foi feito não suporta a quantidade de água. Meu pensamento é levar a cidade para outro lugar. Mudar o povo pouco a pouco lá pra cima da chapada, para o bairro Novo Marajá. Lá não tem perigo de alagamento. Temos que conseguir recursos para fazer as ruas, asfaltar, abrir poços, construir casas e escolas.
O Imparcial - Marajá do Sena já conta com energia elétrica em boa parte das localidades, mas ainda tem sérias deficiências em saneamento básico? O que tem sido feito para avançar?

EC - Acho que o nosso município é o único no Maranhão que não tem taxa de iluminação pública, mas queremos que a Câmara aprove um projeto para criar a taxa e melhorar a iluminação pública. Hoje talvez, só 15 % do município não tenha energia elétrica e queremos fechar o ano com 100%. Os salários estão em dia e ampliamos o número de beneficiados com Bolsa Família, mas não temos saneamento básico. Estou tentando um projeto pela FUNASA para construir uma caixa de dois mil litros que a água que temos não presta. Dá muita gente doente. Não temos CAEMA, nem SAGRIMA.
O Imparcial - Também há grandes dificuldades na questão da saúde? Falta de hospital e maternidade no município é um grave problema?

EC - Às vezes o pessoal chega em rede na sede do município e em Marajá a gente só faz o básico,os primeiros socorros. Na hora de ganhar o neném, por exemplo, por mais normal que seja, a gente indica para fazer em outro município, inclusive nossas IHS, a gente bota para Lago da Pedra para atender em caso de operação. A grávida sair com tempo, 15 dias para ganhar o bebê é bem melhor, porque se dá uma complicação à gente não pode atender. O município conta com dois médicos, cinco enfermeiras, quatro auxiliares de enfermagem, três dentistas, duas ambulâncias e temos um barco alugado pela prefeitura que fica a disposição 24 h para fazer a viagem de 10 minutos pelo Grajaú (rio). Do outro lado fica nossa ambulância esperando o paciente chegar. Fazemos o pré-natal no município, mas alguns exames são feitos fora e às vezes demoram.
O Imparcial - Existe uma obra parada de construção de um grande hospital do Estado onde será o bairro Novo Marajá. Qual a previsão de término?
EC - Estive com o secretário Ricardo Murad e ele disse que até o final do ano passado ele ia terminar de concluir a obra, mas até agora a obra está parada. Acredito que vai terminar, mas ninguém sabe quando. E lá só se trabalha na época do verão, no inverno não entra máquina.
O Imparcial - O que tem sido feito para diminuir a pobreza?
EC - Vamos fazer uma ação global, organizada pela Secretaria de Ação Social para levar um cartório para a cidade para registra as crianças, fazer casamentos. Criamos o CRAS com assistente Social que visita o interior e o conselho tutelar para conversar com as meninas mais novas que engravidam cedo, para ver as dificuldades de filhos sem estudar, sem vacina e precisando de tratamento médico. Temos que investir muito na agricultura e estamos correndo atrás da Secretaria de Agricultura do Estado e Ministério da Agricultura. Precisamos de maquinário. O pessoal tá parando de produzir.
Fonte: O Imparcial


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