Os professores de nível superior no Brasil ganham menos do que outros
profissionais com o mesmo nível de formação. De acordo com análise
feita pelo movimento Todos pela Educação, os docentes recebem o
equivalente a 54,5% do que ganham outros profissionais também com curso
superior. A valorização dos professores é uma das metas do Plano
Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, que
completou dois anos.
"Como é pouco atraente a carreira de
professor, isso leva à desvalorização social. A carreira nao é tida como
uma boa opção profissional, diferentemente do que acontece nos países
que estão no topo dos rankings internacionais. Além de serem
carreiras atraentes, têm valorização social da função. Parte disso é
decorrente da compreensão da sociedade de que educação importa", diz a
superintendente do Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco.
O
PNE estabelece metas e estratégias para serem cumpridas até 2024. A lei
trata desde o ensino infantil até a pós-graduação. Uma das metas do PNE
prevê a elevação do investimento em educação dos atuais 6,6% para 10%
do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, até o final da vigência.
Pelo
PNE, em até dois anos de vigência, o país deveria ter assegurado a
existência de planos de carreira para os profissionais da educação
básica e superior públicas. De acordo com dados da Pesquisa de
Informações Básicas Municipais (Munic/IBGE), em 2014, 89,6% dos
municípios brasileiros declararam ter plano de carreira para o
magistério; metade deles diz ter ações de regulamentação e valorização
do magistério e 65,9% afirmam ter adotado concurso público para a
contratação de professores. Dados do Censo Escolar mostram que, em 2015,
28,9% dos contratos docentes da educação básica pública eram
temporários, o equivalente a quase 630 mil contratos.
Segundo o
Todos pela Educação, não há medições qualitativas dessas políticas e nem
uma ferramenta de monitoramento sobre a aplicação do piso salarial dos professores.
"Não é uma mudança do salário que muda a qualidade na educação, mas a
atratividade na carreira. É preciso pensar em todos os componentes,
desde a atratividade das licenciaturas e pedagogia, a programas com
identidade própria, que levem ao exercício do magistério e perspectivas
de carreira atraentes, com bom salário inicial, condições para crescer
na carreira e condições de trabalho e infraestrutura", diz Alejandra.
De acordo com ela, a carreira do professor tem que ser discutida na
ponta, ao mesmo tempo em que deve envolver um esforço conjunto do
Ministério da Educação (MEC), dos estados e municípios. Deve-se ser
capaz de simular diferentes carreiras e o impacto financeiro disso para
cada ente. A discussão, no entanto, fica comprometida pela situação
econômica do país.
Falta de verbas
"Temos
visto que para melhorar a educação são necessários três elementos: bom
salário, boa carreira e boas condições de trabalho, que envolvem não só a
hora-atividade, mas escolas bem equipadas e democracia na escola. Não
adianta ter um só, tem que ter os três elementos", diz a
secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
(CNTE), Marta Vanelli.
Marta acredita que o contexto econômico
tem impacto direto na qualidade da educação e critica a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC), apresentada pelo governo interino, que
limita o aumento do gasto público à variação da inflação. "Isso nos
preocupa muito. A imposição do governo federal será de mais arrocho para
servidores públicos", diz.
Para os estados e municípios, falta verba para pagar os professores e até mesmo para cumprir a Lei do Piso. De acordo com levantamento da CNTE, mais da metade dos estados não pagam o piso salarial
dos professores. Atualmente, o valor está em R$ R$ 2.135,64. Os entes
defendem maior participação da União nos gastos, uma vez que é a que
mais arrecada.
Discussão
A questão
começou a ser discutida no âmbito do Ministério da Educação, no Fórum
Permanente para Acompanhamento da Atualização Progressiva do Valor do
Piso Salarial Nacional, composto por representantes do MEC, dos estados,
dos municípios e dos trabalhadores. O fórum foi convocado ainda na
gestão da presidenta afastada Dilma Rousseff. Ainda não houve reuniões
depois de o atual ministro Mendonça Filho assumir a pasta. Marta integra
o fórum e diz que o CNTE decidiu que só participará das discussões após
o fim do processo de impeachment e que não negociará com o governo de Michel Temer enquanto for interino.
Em
nota, o MEC assegura que está realizando "análise cuidadosa do
orçamento para a implantação do CAQi [Custo Aluno-Qualidade inicial]".
Previsto para ser implantado ainda este ano pelo Plano Nacional de
Educação, o CAQi poderia ajudar os estados e municípios a remunerar
melhor os professores. "Importante destacar que a atual gestão recebeu o
orçamento com um corte de R$ 6,4 bilhões. No entanto, já foi possível
recompor R$ 4,7 bilhões para minimizar qualquer prejuízo a políticas do
MEC", diz a nota.
Agência Brasil.
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