Denúncias pelo Disque 100 subiram 65% em 2013. Negligência, violência psicológica e abuso financeiro são maiores queixas
Filhos
e netos são os principais agressores de idosos e as mulheres são as
principais vítimas, de acordo com dados de 2013 do Disque 100, o serviço
gratuito de denúncias por telefone da secretaria de Direitos Humanos
(SDH) da Presidência da República.
O número de denúncias cresceu 65,7% em 2013. Foram 38.976,
contra 23.523 em 2012. O aumento é atribuído à maior divulgação do
serviço, iniciado em 2011, e ao aumento da conscientização da população a
respeito da proteção ao idoso.
Entre 71.358 suspeitos de agressão
mencionados nas denúncias, os filhos foram apontados como agressores em
36,6 mil vezes, ou 51,5% do total. Os netos estão entre os responsáveis
por 5,9 mil casos, ou 8,25%. As vítimas são do sexo feminino em 28,3
mil, ou 64% dos casos. “É natural que filhos e netos sejam a maioria dos
agressores porque são os que estão mais próximos. Infelizmente, a
violência vem de quem tem oportunidade”, afirma a promotora Cláudia
Maria Beré, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
A
predominância dos casos em âmbito familiar reflete a dependência da
renda dos idosos, avalia Neusa Müller, coordenadora geral dos direitos
da pessoa idosa da SDH. “A população idosa sustenta muitas famílias. O
País tem uma das maiores coberturas previdenciárias do mundo. Nas
regiões menos favorecidas, isso gera conflito não só intrafamiliar, por
ele ser o provedor, mas quando chega em idade e nível de maior
dependência é vítima de violência financeira.”
A maior vitimização feminina reflete os dados populacionais. De
acordo com o Censo de 2010, dos 20,6 milhões de habitantes com mais de
60 anos do País, 11,4 milhões são mulheres e 9,1 milhões, homens. A
predominância levou a SDH a se articular por um projeto de lei para
propor alteração na linguagem jurídica. A ideia é adotar a expressão
“pessoa idosa” em vez do termo “idoso”, que dá nome hoje ao estatuto, ao
conselho nacional e à lei de políticas para os maiores de 60 anos.
A
mudança, segundo Neusa, serviria para “igualar procedimentos e dar
visibilidade à mulher, não só ao homem”. Além disso, revela os efeitos
da criminalidade sobre a população masculina e a falta de preocupação
dos homens com a saúde. “Há mais mulheres e a tendência é que tenhamos
muito mais. A mulher historicamente vem se cuidando mais e morrem muito
mais adolescentes e jovens homens do que meninas, em decorrência da
violência”, diz Neusa.
Principais casos
Uma
mesma denúncia pode envolver vários casos de violência. A negligência
aparece na maior parte deles. Foram, 29,4 mil registros ou 75% do total.
A mais recorrente é falta de amparo e responsabilização, seguida de
negliência em alimentação e limpeza, em higiene e em assistência à
saúde. A promotora Cláudia Maria Beré chama a atenção para casos de
autonegligência, que ainda tem números pequenos, com registros em
crescimento ano a ano. É o que acontece com idosos que se isolam para
evitar incômodo aos parentes e amigos.
Há casos em que familiares
entram com representação no Ministério Público para poder oferecer
ajuda. “Há idosos que querem morar sozinhos e conseguem enquanto têm
independência. Só que às vezes por problemas de saúde, como Alzheimer,
ou transtorno mental, já não podem se cuidar direito e muitas vezes
afastam as pessoas”, detalha a promotora. Houve 197 denúncias de
autonegligência em 2013, 151 em 2012 e 40 em 2011.
Cládia Maria
aponta ainda que os casos de negligência estão ligados à falta de
disponibilidade das famílias para cuidar dos idosos e diz que há filhos
que retribuem o abandono que sofreram na infância. Segundo ela, faltam
serviços públicos que ofereçam cuidado e acompanhamento enquanto os
familiares não podem estar presentes.
No ranking de violência
contra idosos figuram também, nesta ordem, a psicológica (citada 21.832
vezes, ou 56% dos casos), o abuso financeiro (16.796 vezes, 43% dos
casos) e a violência física (10.803, 27,72%).
O abuso financeiro
costuma acontecer quando o idoso se torna mais dependente dos familiares
para resolver questões do dia a dia. Neusa, da SDH, alerta que além do
abuso, que pode ser associado à violência física e psicológica em
ambiente doméstico, a culpa por ter criado o autor das agressões
prejudica ainda mais o quadro de saúde dos idosos. "Temos idosos que vão
a óbito em decorrencia de depressão e de desencanto pela vida por se
saber vítima dos próprios filhos."
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