Atraídas por uma alta nos preços dos minérios de até 200% entre 2005 e 2010, empresas estrangeiras, sobretudo as canadenses, estão avançando sobre jazidas brasileiras em busca dessas riquezas e começam a redesenhar o mapa da mineração no país. Há pelo menos cinco projetos em desenvolvimento que somam investimentos de US$ 7,3 bilhões até 2015/2016. Todos eles em regiões sem tradição mineral ou onde a atividade mineradora tinha como foco substâncias distintas das que estão sendo exploradas hoje. No radar das multinacionais está um amplo leque de elementos, de minério de ferro a ouro, passando por minerais considerados estratégicos pelo governo, como o potássio, usado na fabricação de fertilizantes e cuja produção nacional não atende a sequer 10% do consumo.
O ouro, que superou a marca de US$ 1.600 a onça-troy (31,1g) na semana passada, viu seu preço médio saltar 200% entre 2005 e 2010. Isso motivou dois projetos numa área remota no Maranhão, conhecida como Gurupi, no noroeste do estado, onde se pratica garimpo ilegal. Juntas, as duas novas minas vão produzir 210 mil onças por ano ou seis toneladas anuais, 10% da produção nacional em 2010.
Um dos projetos é da Aurizona, controlada pela canadense Luna Gold, que já investiu cerca de US$ 64 milhões na unidade. A operação começou em junho de 2010, marcando o início da produção de ouro em escala comercial no Maranhão. Sua concorrente, a Jaguar Mining deve iniciar a atividade em 2013, com investimento de US$ 277 milhões. A empresa é um exemplo de como o capital estrangeiro abre seu caminho no Brasil. Ela foi fundada no Canadá em 2002, por engenheiros brasileiros que se associaram a um grupo americano, e só atua no Brasil.
Potássio – Na quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff cobrou de Vale e Petrobras um acordo para viabilizar o aumento da produção de potássio em uma mina de Sergipe, que foi arrendada pela estatal à mineradora. Desentendimentos entre as empresas impediam a renovação do contrato, comprometendo a expansão da única fonte produtora do mineral no Brasil hoje. Também está em discussão uma parceria entre as companhias para viabilizar a exploração de potássio em jazida da Petrobras jamais explorada no município de Nova Olinda do Norte (AM), localizado em uma região apontada por especialistas como uma das três maiores reservas mundiais de potássio, ao lado de áreas no Canadá e na Rússia.
É justamente nessa pequena cidade de apenas 30 mil habitantes que está sendo desenvolvido um dos novos projetos de mineração que estão mudando a geografia do setor no país. De responsabilidade da Potássio do Brasil, do grupo canadense Forbes and Manhathan, o projeto deverá demandar até US$ 4 bilhões para iniciar a operação, prevista para 2015/2016. A empresa já investiu US$ 20 milhões em pesquisa, com oito perfurações até agora, que resultaram na primeira descoberta de potássio em 30 anos na região. A expectativa é produzir entre dois milhões e quatro milhões de toneladas do mineral por ano, o que representará entre 20% e 40% da produção nacional esperada para 2016.
Dilma vetou canadense em 2008
A reserva da Potássio do Brasil fica a apenas 10 km da jazida da Petrobras, cobiçada pelo grupo canadense no passado. A Forbes and Manhathan, por meio de sua subsidiária Falcon Metais, chegou a vencer uma licitação feita pela estatal em 2008, mas a vitória de um grupo estrangeiro desagradou Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil, que, com aval do ex-presidente Lula, pressionou pelo cancelamento do leilão. O grupo canadense decidiu então requerer licenças diretamente ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), com as quais explora uma área de 300 mil hectares hoje.
“Comprar a reserva da Petrobras seria um atalho, mas não desistimos do projeto, e ele vem dando certo”, disse o diretor-executivo da Potássio do Brasil, Helio Diniz, que ainda mantém interesse na jazida da estatal, caso seja leiloada de fato.
O projeto da Potássio Brasil é apenas uma pequena mostra do apetite dos investidores estrangeiros. Levantamento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) revela que no período 2011-2015 serão investidos US$ 68,5 bilhões no setor, dos quais cerca de 30% virão de fora. O cálculo inclui não apenas novos projetos, como também expansões. Não há restrições para investimento estrangeiro em mineração, segundo o DNPM. A Vale, sozinha, deve investir aproximadamente US$ 13 bilhões em mineração este ano no país.
“Há demanda crescente por minerais no mundo, o que tem elevado os preços. Isso desperta interesse dos investidores, nacionais e internacionais, por áreas antes despercebidas. O aporte de recursos só vai aumentar”, afirmou o gerente de dados econômicos do Ibram, Antonio Lannes.
O preço médio da tonelada de potássio, por exemplo, passou de US$ 192 em 2005 para US$ 374 em 2010, alta de 95%.
“O setor de mineração é de alto risco. O Canadá tem tradição de investir nesse segmento e facilidades de captação de recursos”, explicou o vice-presidente de geologia e engenharia da Jaguar Mining, Adriano Nascimento
As canadenses também estão se voltando para o agreste alagoano. Por meio de sua subsidiária Mineração Vale Verde, a Aura Minerals está implantando um projeto de cobre associado a minério de ferro em Craíbas, cidade a 150 km de Maceió que hoje vive da agricultura. A descoberta fora realizada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) nos anos 70, e os dados foram entregues à Vale, então estatal. Em 2007, o grupo comprou os dados da mineradora e espera concluir o estudo de viabilidade econômica em breve.
O presidente da Vale Verde Mineração, Carlos Bertoni, está tão confiante que já entrou com o pedido de concessão de lavra no DNPM e espera obtê-la em três meses. O investimento chegará a US$ 500 milhões, e a produção estimada é de 250 mil toneladas de cobre e 1 milhão de toneladas de minério de ferro por ano a partir de 2014.
Cazaquistão: interesse em urânio?
Apesar de os canadenses dominarem as investidas, o Brasil desperta interesse em países mais distantes. Em 2010, a ENRC, do Cazaquistão, comprou a Bahia Mineração, de olho numa reserva de minério de ferro em Caetité (BA), conhecida pela exploração do urânio que abastece nossas usinas nucleares. A coincidência levanta suspeitas de que o real interesse da empresa seja o urânio. Mas o presidente da ENRC no Brasil, José Francisco Viveiros, assegura que o foco é o ferro. O investimento é de US$ 2,5 bilhões e se junta a outras investidas de estrangeiros na Bahia. A australiana Mirabela produz níquel em Itagibá desde 2009. É a segunda mina de níquel a céu aberto do mundo. (O Globo e Redação do JP)
Edição: Cícero Ferraz