Condições da delegacia do município de Rosário, onde detentos se rebelaram na terça-feira, são degradantes. Celas superlotadas e muita sujeira compõe o cenário do local
"As fugas aqui são muito constantes", disse um investigador que atua como agente penitenciário na Delegacia de Rosário, por falta de profissionais. Na madrugada da última terça-feira (7) uma tentativa de fuga resultou em uma rebelião que danificou ainda mais as celas da delegacia. Os detentos serraram as grades da parte utilizada para banho de sol e visitas, conhecido como gaiolão, mas a tentativa foi descoberta pelos agentes antes que fugissem.
Como medida disciplinar as visitas previstas para quarta e quinta-feira foram suspensas, além da retirada de equipamentos como TVs e rádios das celas, o que bastou para que a rebelião começasse. Na ação, colchões foram queimados no corredor das celas, dois presos foram espancados e um quase foi estrangulado. Para conter a revolta dos presos a juíza da Comarca de Rosário e Bacabeira, Rosângela Prazeres, foi acionada para negociar com os detentos. Segundo ela, eles reivindicaram melhores condições de tratamento e instalações da Delegacia, além da transferência da delegada da unidade, Maria de Jesus.
A juíza informou que foi chamada pelo Major Roberto, da Polícia Militar, para tentar conter a confusão. Ao chegar, Rosângela Prazeres disse que se deparou com muita revolta e ouviu o que os presos tinham para falar. "Eles reclamaram além das instalações, do tratamento que recebem na delegacia e da comida", pontuou. A delegacia não recebe apenas presos de Rosário.
A rebelião, que teve início por volta das 13h e cerca de quatro horas de duração, terminou com um saldo não muito grave: nenhum detento fugiu e três celas foram isoladas temporariamente porque tiveram as grades serradas pelos presos. Com eles foram encontrados pequenas quantidades de maconha, facas artesanais feitas de gilete e pedaços de chapas das celas, alicates, chaves de fenda e celulares.
CENÁRIO
Mato, sujeira, escuridão, falta de higiene, insegurança e sensação de abandono é o que pode ser encontrado na Delegacia de Rosário. Embora o local tenha passado por uma pequena reforma há cerca de três meses, as instalações são precárias. Amontoados em um pequeno espaço, os 42 presos instalados na delegacia dividem, agora, quatro das sete celas. Ou seja: mais de dez pessoas para cada cela. A imagem dos espaços delimitados por grades é assustadora. Redes imprensadas, mau cheiro e muita sujeira fazem com que os presos passem os dias mais revoltados. "No banheiro, a privada está entupida, a comida é nojenta e a assistência à saúde é quase zero", disparou um detento no fundo da cela, que não quis muita conversa.
Acompanhado do mesmo investigador citado acima e que não quis se identificar, a equipe de O Imparcial visitou as instalações do local e conferiu os principais pontos de fuga dos detentos. De acordo com ele, as obras que previam uma quadra poliesportiva, ampliação do gaiolão e ainda espaço para visita íntima estão paradas há cinco meses. No entorno da delegacia há uma escola, um ginásio e um hospital e o acesso a essas construções são livres, o que proporciona porta de entrada de materiais como armas, comidas, drogas, pedaços de serra e celulares para os presos, facilitando as fugas.
O investigador explicou que as visitas e banhos de sol acontecem nas quartas e quintas-feiras. "As famílias trazem sacolas imensas para os familiares que estão presos aqui e como a equipe é pequena nunca dá para vistoriar tudo o que há nelas. Por esse motivo muitos acabam conseguindo levar armas e celulares para os presos", revelou.
Outro fato curioso e alarmante são os cadeados utilizados para trancar as celas. Como foi mostrado pelo investigador, eles se abrem facilmente com as próprias mãos, dispensando as chaves. "Os presos já conseguiram fugir abrindo os cadeados com as mãos. Como no plantão ficamos sozinhos, o perigo sempre aumenta", disse.
Mas a falta de estrutura não atinge só os detentos, a delegacia conta com aproximadamente 30 funcionários divididos por turnos e, como o investigador, citou "falta até cadeira". Na cozinha, que seria para uso de agentes penitenciários e demais funcionários, a geladeira está sem porta, o fogão está totalmente enferrujado, o que representa risco de doenças como o tétano. Computadores queimados representam entulho nas instalações que abrigariam salas de apoio aos policiais. Na recepção, a impressora que imprimia processos e boletins de ocorrência está quebrada há mais de um mês e sem previsão de conserto.
Outros materiais de apoio como ventiladores estão queimados e o que ainda resta está apenas com o motor e a hélice. "As cadeiras que estão aqui foram emprestadas, o banco veio de uma doação feita por um conhecido nosso e por aí vai", completou o investigador.
No momento da presença da reportagem não havia nenhum delegado responsável pelo local. Tentamos contato com a delegada Maria de Jesus, mas não tivemos retorno.
Fonte: O Imparcial
Edição: Cícero Ferraz
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