Manifestação organizada no final da tarde desta quinta-feira (17) contra o aumento da passagem de ônibus em São Paulo terminou, mais uma vez, em pancadaria. Os manifestantes protestavam em frente à Prefeitura, no centro, quando, por volta de 18h45, policiais militares reprimiram o ato com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha.
“Eles vieram como uma truculência desproporcional”, afirma Fábio Nassif, que integra a comissão de comunicação do Comitê contra o Aumento da Passagem, grupo formado por movimentos sociais, partidos políticos de esquerda, grêmios estudantis, sindicatos, associações de bairro e pelo Movimento Passe Livre.
O protesto tem como objetivo pressionar a prefeitura para que seja revogado o aumento da tarifa de ônibus, que subiu de R$ 2,70 para R$ 3 em janeiro --variação de 11%-- após decreto do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Durante a pancadaria, sobrou paras os vereadores petistas Antonio Donato e José Américo, que participavam do ato e integram a comissão de negociação. Os dois parlamentares apanharam dos policiais com cassetetes e gás lacrimogêneo, mesmo após terem se identificado. Donato afirma ter sido agredido por policiais militares. “Está uma confusão aqui. Levei um monte de borrachada”, disse, por telefone, ao UOL Notícias.
Américo diz que os vereadores estavam reunidos com um representante da prefeitura quando ouviu o barulho das bombas. "Imediatamente interrompemos a conversa e tentamos dialogar [com a polícia], mas a tropa de choque nos agrediu com gás lacrimogêneo e gás de pimenta", afirma o vereador.
Segundo Fábio Nassif, um manifestante que foi agredido pelos PMs está detido ao lado do prédio da prefeitura. Carlos Ceconello, fotógrafo da Folha de S. Paulo, foi ferido na perna por estilhaços de bomba.
A prefeitura responsabilizou os manifestantes pela pancadaria. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, eles tentaram invadir a área protegida por uma grade, em frente à prefeitura, e atirar objetos contra os policiais, informação negada por Nassif. Em nota, a prefeitura afirma que se mantém aberta ao diálogo.
A assessoria de imprensa da Polícia Militar não informou o motivo que levou os policiais a reprimirem o protesto. “Sabemos que houve a necessidade de intervenção, mas não sabemos o motivo." A PM afirmou que não tem mais detalhes sobre o episódio.
Não é a primeira vez que uma manifestação contra o aumento da tarifa em SP termina em pancadaria. Em 14 de janeiro deste ano, um protesto na praça da República foi reprimido por policiais militares. O mesmo ocorreu em uma manifestação no parque Dom Pedro, em janeiro de 2010.
Acorrentados na prefeitura
Além do protesto na rua, outros seis manifestantes estão acorrentados, desde as 12h30, nas catracas do saguão principal do prédio da prefeitura.
Entrevistada por telefone pela reportagem do UOL Notícias, a estudante de geografia Mayara Vivan, 21, uma dos seis acorrentados, afirmou que os manifestantes só irão deixar o local após a prefeitura garantir a realização de uma reunião com o prefeito ou com algum representante do Executivo que tenha poder de revogar o aumento.
“Não vamos arredar o pé enquanto não houver negociação efetiva. Se precisar, a gente faz até xixi no balde. Não tem problema. Estamos lutando por um direito nosso. Eles [a administração municipal] tem plena consciência da situação precária do transporte público. A população está do nosso lado”, diz a estudante.
Os manifestantes se acorrentaram logo após uma reunião de negociação fracassada entre os vereadores petistas José Américo e Donato e representantes do comitê com o secretário-adjunto dos Transportes, Pedro Luiz de Brito Machado
Segundo Nassif, o secretário-adjunto afirmou, na reunião com os militantes e os vereadores, não ter autonomia para negociar com o grupo. Ele teria dito também que não seria possível voltar atrás no aumento da passagem. A reunião de negociação foi exigida pelos manifestantes durante audiência pública na Câmara Municipal no último sábado (13), com participação do secretário dos Transportes, Marcelo Branco.
O percentual de reajuste da tarifa foi quase o dobro da inflação do período (6,40%), o que faz a passagem de ônibus em São Paulo ser uma das mais caras do país. “O aumento foi aprovado por decreto. Antes, pelo menos tinha que passar por votação na Câmara [Municipal]”, reclama Vivan.
Pelo menos cinco protestos --alguns com mais de 3.000 pessoas-- foram organizados nas ruas do centro e na região da avenida Paulista desde que o aumento entrou em vigor. Para hoje, foi convocado um ato, às 17h, em frente à prefeitura. A reportagem entrou em contato com a prefeitura e a Secretaria Municipal dos Transportes e aguarda uma posição sobre o assunto.
Fonte: UOL
Edição: Cícero Ferraz
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