Feriados, homenagens e monumentos são desafios lançados contra o tempo. Uma mensagem para nossos filhos e netos a respeito de uma pessoa ou acontecimento cuja importância nos pareceu fundamental a ponto de ser eternizado em estatua, praça, nome de rua, bairro ou cidade. São Luís, padroeiro da cidade do Maranhão, por exemplo, tomou para si a cidade e a ilha que a sustenta sem ter jamais se tornado objeto de devoção de seus moradores. Uma vitória de seus fundadores (em que pesem algumas estéreis polêmicas burocráticas).
Outra ilha, Desterro virou Florianópolis por honra e obra de seu conquistador, Floriano Peixoto, Presidente/Ditador dos primeiros anos de república no Brasil. O “Marechal de Ferro” ainda às voltas com reais ou imaginários reacionários monarquistas aqui e ali, promoveu lamentáveis perseguições aos sediciosos que lá derrotou no final do século XIX . Esta mudança nunca foi desfeita, em que pese o evidente desconforto que causa até hoje em quem narra aquele processo que “rebatizou” a cidade.
São Luís, como sabemos, não mudou de nome desde sua fundação, mas não passa em branco quando comparamos nossa lista de monumentos, homenagens e feriados com seus contextos de lançamento e falta de importância atual. Basta que uma estátua não tenha placa lhe identificando para que a imaginação corra solta. Foi assim que o Almirante Tamandaré começou a ser confundido com o Vovô Popeye em seu pedestal entre a Praça Maria Aragão e a RFFSA (elas próprias sob risco de “dessignificação”). O fato de o velho Lobo do Mar nunca ter colocado os pés por aqui não parece ter a menor ligação com isso. Vide o caso da famigerada rua 28 de Julho.
Para quem não sabe, esta é a data da “adesão do Maranhão á independência do Brasil”. Um equivalente do 2 de julho que é muito comemorado na Bahia. Qual seria a raiz da indiferença com que a “adesão” é tratada por estas bandas? Uma possibilidade é a de que, enquanto a Bahia viveu uma verdadeira guerra civil entre partidários da independência e da submissão ao governo de Lisboa, nós fomos invadidos e conquistados pelas forças brasileiras vindas pelo sertão de capitanias vizinhas e pelo mar, a mando de D. Pedro I no Rio de Janeiro. Ninguém parece muito magoado por aqui ou disposto a se separar (mesmo depois dos 7 X 1), mas não temos com quem nos identificar no lado vencedor quando olhamos para trás.
Aliás, tudo indica que resolvemos esquecer aquele período de nossa história. E não faltam razões. Depois de perdermos todas as batalhas no interior, Lord Cochrane, mercenário que comandava a esquadra brasileira, ameaçou bombardear São Luís, com uma poderosa esquadra que já estava a caminho, em caso de continuarmos a resistência. Ficou para a história que teria sido um blefe que, entre outros ardis do escocês, acabou por levar á rendição da cidade. A desonra local só aumentou quando tivemos o tesouro da cidade saqueado pelo mercenário. Pra completar e eternizar nosso embaraço, o imperador concedeu ao marujo o título de Marquês do Maranhão. Em suma, fomos enganados e, se não há quem queria reverter o resultado, tampouco existe razão para comemorar o acontecido.
Com tudo à mesa, não parece tão estranho que a Rua 28 de Julho, no centro histórico de São Luís, seja imediatamente lembrada como epicentro da “zona do baixo meretrício”, funcionando na prática como um sinônimo das atividades lá desenvolvidas, reais ou imaginárias.
O Imparcial
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