Especialistas da área da educação avaliaram hoje (31), em audiência
pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado, que a proposta de
emenda constitucional (PEC) que limita os gastos públicos pelos próximos
20 anos à correção da inflação do ano anterior vai desconstruir o Plano
Nacional de Educação (PNE).
De acordo com a representante do
Fórum Nacional de Educação (FNE), Jaqueline Pasuch, o princípio
norteador do PNE consiste “em quase dobrar as atuais receitas
orçamentárias da União” para cumprir as 20 metas do plano, entre elas,
as que preveem atingir um investimento equivalente a 10% do Produto
Interno Bruto (PIB) na educação e a equiparar a remuneração média do
magistério com outras categorias profissionais da mesma escolaridade. Na
Câmara, a PEC tramitou com o número 241 e, agora, no Senado, tramita
com o número 55.
“No entanto, os dois principais objetivos da PEC
241, hoje PEC 55, colidem com o PNE, uma vez que se pretende suspender,
por 20 exercícios fiscais, o dobro de tempo de vigência do Plano
Nacional de Educação, as receitas de impostos vinculadas à educação, art. 212 da Constituição Federal,
bem como limitar os investimentos educacionais e despesas primárias do
Estado à inflação medida pelo IPCA do exercício anterior, também por 20
anos”, afirmou Jaqueline.
O Ministério da Educação (MEC) foi
convidado para participar da audiência, mas não enviou nenhum
representante. O FNE é composto por 50 entidades e órgãos ligados à
educação, incluindo representantes dos secretários estaduais e
municipais da área, movimentos sociais, entidades estudantis e do
próprio MEC.
Entre outras atribuições, o Fórum deve divulgar o
monitoramento contínuo do PNE (Lei 13.005/2014), composta por 20 metas,
desde a educação infantil até a pós-graduação, e estabelece a
valorização dos professores e trabalhadores em educação. A lei determina
também o investimento de pelo menos 10% do PIB em educação até 2024.
Atualmente, o investimento é de 6,2%.
A PEC propõe um novo regime fiscal para o país, em que o aumento dos
gastos públicos, em um ano, esteja limitado pela inflação do ano
anterior. O governo, autor da proposta, defende a medida como
fundamental para o controle da dívida pública e a retomada de confiança
na economia e nega que ela vá retirar recursos de áreas como saúde e educação.
Para
o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
Daniel Cara, a PEC 55 desconstrói não só o Plano Nacional de Educação,
mas também o processo de desenvolvimento das políticas sociais que
vinham sendo realizadas desde a Constituição Federal de 1988.
“Então,
parece que nós discutimos uma medida de governo, mas na realidade nós
estamos não só impondo um teto à economia brasileira; estamos também
impondo um teto de 20 anos ao desenvolvimento do país. Isso precisa ser
refletido, porque, se não fossem os estudantes, talvez a sociedade
brasileira não debatesse esse tema com a ênfase com que precisa
fazê-lo”, afirmou Cara.
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