terça-feira, 1 de junho de 2010

Epidemia de crack já provoca evasão escolar e até a morte de alunos

Há pouco menos de um mês, um menino tímido, de 6 anos, com uma pequena marca de pontos na mão direita, não é mais visto na escola onde estudava, na Zona Oeste, numa região controlada por milicianos. Pela segunda vez em dois anos, ele teve de trocar de colégio e de casa. Um tio, de apenas 11 anos, também aluno da mesma unidade, matou a facadas um adolescente de 16 anos durante uma briga. Os paramiltares não permitiram mais a presença da família na comunidade. No terceiro dia da série de reportagens "O x da questão: Rascunhos do Futuro", que retrata o desafio de educar em áreas de risco no Rio, O GLOBO mostra como a violência é responsável por criar um verdadeiro êxodo de estudantes. Outro aspecto é a epidemia do crack, que também já começa a provocar evasão nas escolas da rede municipal de ensino.

Nas 150 Escolas do Amanhã, unidades da prefeitura localizadas em áreas de risco, a evasão ainda é um problema maior do que no restante da rede. Em 2009, o índice foi de 4,69% enquanto nos outros colégios foi de 3,19%. Aproximadamente cinco mil alunos abandonaram as salas de aula ano passado nas escolas afetadas diretamente pela violência.

Na mão, uma marca de tiro

A adaptação do menino de 6 anos na escola em que estudava na Zona Oeste já não tinha sido nada fácil. Em tão pouco tempo de vida, ele carrega uma história que vai além da pequena cicatriz que tem na mão. A marca dos pontos não é apenas o que ficou de um tiro, disparado por bandidos, também na mão de sua mãe. Há pouco menos de dois anos, o garoto já tinha sido obrigado a se mudar porque a mãe dele tivera problemas com os criminosos da favela onde morava.

- Quando o menino chegou aqui na escola, não queria se desgrudar da mãe de jeito nenhum. Chorava e gritava muito. Aos poucos, fomos conseguindo fazer com que ele ficasse - relembra a diretora da unidade.

Apesar de, em abril deste ano, a criança já estar há mais de um ano na escola, bastava acompanhar alguns dias de rotina na unidade para saber o quanto era difícil manter o menino. Numa manhã em que o repórter do GLOBO estava no colégio, a própria diretora foi quem o colocou no colo e tentava distraí-lo num momento de tristeza. Na frente do computador da secretaria, ela procurava entretê-lo com algumas imagens.

- Às vezes, ele fica assim, triste. Aí, a gente tenta distraí-lo. Mas hoje ele está com certeza bem melhor do que quando chegou - disse a diretora na época.

Poucos dias depois, no entanto, o tio da criança assassinou um adolescente da comunidade, provocando mais uma mudança forçada. Até o último contato feito com a diretora, ainda não havia notícias do novo paradeiro do menino e se ele já havia sido matriculado em outra unidade. O fato é que na próxima escola ele irá começar tudo de novo. De novo

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