Pegar ônibus, usar o caixa eletrônico, ajudar o filho nas tarefas
escolares, assinar um documento. Atividades que podem parecer simples,
são um transtorno para mais de 8% da população brasileira, que não sabe
ler e escrever.
A preocupação aumenta, quando uma pessoa
analfabeta passa por tratamento médico, que precisa de mais cuidados com
a saúde, como rigor no horário de tomar os remédios.
No Hospital
Universitário da Universidade Federal do Maranhão, em São Luís, a morte
de uma paciente foi o ápice para uma tomada de decisão. A assistente
social Gisele Pereira relembra o caso da mulher que tomou a medicação
trocada por não saber ler.
“Ela estava tomando os medicamentos
errados, porque nem ele, nem ela, sabiam ler. E eles tinham filhos
pequenos, também não estavam estudando. Ela estava tomando os
medicamentos completamente, de uma maneira errada, ela estava tomando
corticoide como se fosse hipertensivo. E com o tempo, essa paciente
evoluiu para óbito. E isso foi uma experiência muito negativa porque a
gente tem plena consciência de que o que acelerou esse óbito foi a
ignorância, foi a falta de conhecimento. Então a partir dessa
experiência negativa que a gente teve, a gente disse: “não podemos mais
ficar de braços cruzados. A gente precisa fazer alguma coisa.”
E
fizeram. Desde 2013, o projeto “ABC Nefro”
alfabetiza pacientes de hemodiálise dentro do Hospital Universitário.
Pessoas com problemas renais e que necessitam do tratamento vão ao
hospital três vezes por semana e ficam lá por cerca de 4h, o que
dificulta ainda mais presença nos bancos escolares.
O atendimento
acontece durante a própria sessão de hemodiálise e respeita a condição
clínica dos pacientes. Gisele Pereira explica que existe um momento que o
organismo responde melhor, geralmente a partir da segunda hora da
diálise. As aulas são individuais e duram até 40 minutos.
Atualmente,
13 alunos maiores de 15 anos estão inscritos na modalidade de ensino de
Educação de Jovens e Adultos, o EJA. Os cinco professores que
participam do projeto são cedidos pela da Secretaria de Educação de São
Luís.
Há oito anos, Neuta Ferreira, de 44 anos, faz tratamento no
hospital universitário. Ela, que mora no município de Itapecuru-Mirim, a
118 quilômetros da capital maranhense, fala do progresso após começar a
participar do ABC Nefro.
“Eu não sabia o nome dos meus remédios,
eu já sei o nome dos meus remédios. Ás vezes eu digo assim: professora, é
eu mesmo que estou lendo? É minha filha, tu tá lendo”.
O
analfabetismo assola mais 19% da população do Maranhão. O número é mais
elevado entre os estados da Amazônia Legal. Os dados são do IBGE, no ano
de 2014, e fazem referência a pessoas maiores de 15 anos que não sabem
ler e escrever.
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