BRASÍLIA – Na vida, todos têm um sonho. Alguns, mais fáceis, demandam menos tempo de realização, enquanto outros objetivos demoram praticamente a vida toda para serem cumpridos, mas sempre são muito festejados quando alcançados. Para o maranhense José Mário Silva dos Santos, a espera foi grande, mas o tão aguardado momento chegou: aos 52 anos, o flanelinha mostrou força de vontade e passou no vestibular da Universidade de Brasília (UnB).
Nascido em São Luís, Zé Mário deixou a sua terra natal com 15 anos, logo após ter concluído o Ensino Médio e chegou a morar no Recife e no Rio de Janeiro até chegar a Planaltina, onde vive há nove anos. Graças a um amigo, que trabalha como policial militar e lhe cedeu uma casa para morar, o flanelinha conseguiu uma bolsa de estudos em um cursinho, onde entrou em setembro de 2013. Pelo pouco tempo de preparação, José não conseguiu passar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas os resultados agradaram e ele ganhou um tempo maior de preparação.
Na segunda tentativa, José teve a sua consagração e acabou passando para Gestão Ambiental, no campus de Planaltina. O flanelinha mostrou desenvoltura na redação, que tinha como tema “‘Viagem a Marte sem volta”. Ao falar do Planeta Vermelho, Zé Mário destacou a presença de água, fundamental para a existência de vida inteligente, mas comentou a presença da poeira radioativa, que é mortal à sobrevivência humana. O texto rendeu a José uma nota cinco e a vaga na UnB.
Apesar de ter um desempenho bom o suficiente para cursar Comunicação no Campus Darcy Ribeiro, em Brasília, Zé Mário optou por estudar perto de casa. “Uma amiga olhou a grade e não tinha Cálculo I. Além da minha afinidade pelo assunto, claro”, disse, alegando a sua escolha pelo curso em que foi aprovado. Apesar disso, José informa que conhece Matemática e que não teria maiores dificuldades quando estudasse o assunto. “Tenho facilidade em aprender e dominar conteúdo”, garante.
Dificuldades e objetivos
Para José Mário, a escolha pelo Vestibular da UnB teve um motivo bem simples: a vontade de querer mudar de vida, até mesmo pelo preconceito que encara por ser flanelinha. “Eu sei que não sou bem visto pela sociedade”, reclama. Apesar disso, Zé Mário garante tirar até R$ 1,5 mil por mês, com parte do dinheiro sendo aplicado em uma poupança, e até brinca com a profissão. “Não me vejo como flanelinha. Sou mais um relações públicas, porque faço amigos, não patrões”.
O curso de Gestão Ambiental promete ser um grande passo na vida difícil do flanelinha. Apesar de ter uma irmã e uma tia que passaram em concursos públicos, Zé Mário não levou os estudos adiante por causa de um casamento precoce. Pai de quatro filhos, José admite ter pouco contato com eles. “Sentia muita falta dos meus filhos quando cheguei a Brasília, então encontrei uma cachorrinha e resolvi adotá-la. Ela é tudo para mim”. Apesar de ainda não ter iniciado as aulas na UnB, José revela que seus planos não se limitam aos estudos: por ter grande afinidade com a cultura negra e ser praticante de capoeira, sendo conhecido como Mestre Maranhão, o flanelinha planeja abrir uma turma no campus e viver das aulas.
Com informações do Jornal de Brasília.
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