sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Usuários de drogas recolhidos em operação no João Paulo com reincidência serão internados

O cenário de consumo e tráfico de entorpecentes continua sendo parte da rotina da Rua Projetada, conhecida como “Cracolândia”, no bairro do João Paulo. Apenas uma pequena parte dos usuários recolhidos em novembro do ano passado em uma operação desencadeada pela Secretaria de Estado de Segurança (SSP) aderiram ao tratamento. Por conta disso, o Centro Integrado de Defesa Social (Cids) da área Oeste informou que está sendo providenciada a internação compulsória dos demais.

Segundo o delegado titular do Cids Oeste, Joviano Furtado, a medida ainda não tem um prazo estipulado, mas o procedimento já foi solicitado junto à Justiça. Ele explica que a solicitação foi baseada na reincidência dos usuários de crack que já tinham sido apreendidos em uma operação realizada em abril do ano passado. “Nas duas vezes foi oferecido tratamento e apesar de muitos terem se comprometido, poucos o fizeram”, disse.

Na primeira operação realizada em abril do ano passado quase 30 pessoas foram encaminhadas para receber tratamento. Já na segunda operação, ocorrida em novembro, foram recolhidas cerca de 20 pessoas. Segundo o delegado Joviano Furtado, a maioria dos usuários de drogas listados na segunda operação já tinha sido apresentada na primeira operação. Ele explicou que a dificuldade em aderir ao tratamento está ligada ao grau de dependência e por isso a necessidade da internação compulsória.

Durante à tarde de ontem, a reportagem de O Imparcial registrou a presença de dependentes usando crack ao longo das calçadas da “Cracolândia”. O consumo era interrompido apenas por brigas regulares entre os próprios usuários. Sem aviso algum, uma mulher e um homem começaram a discutir. Visivelmente drogada, a mulher apontava uma faca para o outro dependente.

O conflito entre os dois chegou a durar mais de 15 minutos e o homem chegou a se armar com um pedaço de pau. Apesar das ameaças e provocações dos dois, com investidas regulares um contra o outro, o conflito foi encerrado sem maiores danos. Segundo os comerciantes e moradores locais, essas brigas se transformaram em rotina na rua assustando moradores e afastando clientes que procuram o local.

A moradora Viviane Oliveira, 20 anos, afirma que após a operação desencadeada em novembro do ano passado a situação ficou mais crítica. “A polícia passa pouco por aqui e eles ficam debochando das autoridades, não se intimidam”, disse. Viviane lembrou que também é arriscado sair à noite. “Até para voltar é complicado, nenhum táxi desce aqui, só param na avenida e temos que vir andando”, contou.

Os comerciantes também relatam prejuízos para o comércio. Uma vendedora que não quis se identificar lembrou que os clientes são incomodados com abordagens dos usuários de droga e o risco de serem assaltados. Um outro senhor que trabalha nas proximidades e também não quis se identificar afirmou que os dependentes se reúnem tanto à noite quanto de dia em grupos que variam de cinco a 20 pessoas. “É uma profissão que eles fizeram para si. Só Deus para reabilitar”, comentou.

Adolescente dependente de crack está internada

O delegado Joviano Furtado informou que a adolescente de 13 anos recolhida durante as duas operações realizadas na “Cracolândia” está internada no Hospital Nina Rodrigues para desintoxicação. Ela chegou a manifestar o interesse de participar do tratamento oferecido aos demais usuários no Centro de Atenção Psicossocial do Estado para Álcool e Drogas (CAPES AD), no Monte Castelo. Contudo, foi necessária autorização judicial para ser feita a internação porque a garota tem menos de 18 anos.

Além disso, a menina vem de uma família com alta vulnerabilidade social. A mãe dela está presa e a avó também sofreria com a dependência de drogas, segundo a polícia. O delegado do Cids Oeste explicou que ontem a garota reafirmou o interesse em participar do tratamento. Atualmente, ela passa por um processo de desintoxicação das drogas no Hospital Nina Rodrigues.

Depois que for concluída esta primeira fase do tratamento, a garota passará por uma nova avaliação do estado de saúde e será decido para onde será encaminhada. “O estado tem essa dificuldade de clínicas especializadas exclusivamente para o tratamento contra as drogas. Mas, a decisão judicial para a internação dela garante que o procedimento tenha continuidade aqui ou em outra unidade de saúde do país se for necessário”, disse.

Joviano lembrou que mais uma pessoa aceitou o tratamento voluntário. A estratégia para oferecer ajuda aos usuários de crack é desenvolvida com o apoio dos CAPES e da Defensoria Pública Estadual. “Mas ainda existem muitos que estão em estado avançado de dependência e permanecem na “Cracolândia” por isso pedimos a internação compulsória e faremos outra incursão”, declarou.

Operações na Cracolândia

As operações de recolhimento dos usuários de drogas da “Cracolândia” para oferta de tratamento contra a dependência foi iniciada em abril do ano passado com a apreensão de 28 usuários e detenção de quatro pessoas. Em novembro foram recolhidas quase 20 pessoas, a maioria tinha sido convidada a fazer o tratamento na primeira operação. Nas duas vezes os usuários foram encaminhados para avaliação do estado de dependência na Academia de Polícia Civil, no São Raimundo. Porém, em ambas as ocasiões, os usuários retornaram à “Cracolândia” em menos de 24 horas.

INTERNAÇÃO DE DEPENDENTES

Existem três tipos de internação para os dependentes de drogas definidas pela Associação Brasileira de Psiquiatria. A internação compulsória ocorre quando a Justiça determina o procedimento; a internação involuntária é aplicada em caso de pacientes em crise ou menores de 18 anos de idade e o hospital deve comunicar o Ministério Público em até 72 horas; o último tipo de internação é a voluntária onde o usuário consente em receber o tratamento.

Fonte: O Imparcial
Edição: Cícero Ferraz

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