domingo, 16 de outubro de 2011

Anvisa inspeciona mais um depósito com lixo hospitalar importado dos EUA


Mais lençóis e fronhas descartados por hospitais dos Estados Unidos foram encontrados no interior de Pernambuco. Ontem, técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) inspecionaram um segundo depósito da empresa Na Intimidade, flagrada na última semana importando 46 toneladas de lixo hospitalar norte-americano. Lá, encontraram cerca de 23 toneladas do material. O galpão onde estavam os tecidos, muitos deles manchados de sangue, fica em Toritama, a cerca de 170km de Recife. Uma mesa de corte no depósito vistoriado, assim como na sede da confecção, localizada em Santa Cruz do Capibaribe, levou as autoridades a terem certeza do aproveitamento dos tecidos para a fabricação de roupas.

"Eles descartavam a parte que tinha o nome dos hospitais e faziam os moldes para os bolsos com o restante do tecido. Encontramos vários tecidos com a inscrição de serviços médicos, alguns deles manchados, provavelmente de sangue", explica Jaime Brito, gerente-geral da Apevisa. De acordo com depoimento de funcionários, o tecido era cortado e vendido para fábricas de confecção, sem passar por nenhum processo de lavagem. A quantidade flagrada no depósito de Toritama %u2014 mesma capacidade de cada um dos contêineres apreendidos no Porto de Suape %u2014 impressionou os fiscais. "O local tinha uns 400m², bem maior que a sede da empresa, que deveria ter 250m²", comenta Brito.

Nos documentos da importação realizada pela Na intimidade, o destino declarado era apenas o endereço da empresa em Santa Cruz do Capibaribe. "No entanto, em outros arquivos da Receita Federal, foi identificado que a mesma empresa tinha uma filial em Toritama e decidimos checar", explica o gerente-geral da Apevisa.

Os dois pontos foram interditados. As amostras dos tecidos serão encaminhadas ao Instituto de Criminalística (IC). "Queremos saber qual o nível de contaminação dessas peças", diz Brito. A Polícia Federal está investigando o caso, mas nenhuma informação sobre as apurações foi divulgada. O dono da empresa Na Intimidade continua desaparecido. O advogado dele restringiu-se a dizer às autoridades sanitárias que ele está em viagem por Maceió.

Novas cargas

Mais 14 contêineres, possivelmente carregados de lixo hospitalar, deverão chegar ao Porto de Suape. O alerta foi dado pela transportadora marítima Hamburg Süd, já que tais cargas foram exportadas pela mesma empresa que enviou, dos Estados Unidos, o material interceptado na semana passada. Os contêineres já saíram do Porto de Charleston, na Carolina do Sul, mas como o trânsito ainda não foi confirmado pelo sistema da Receita Federal, não se sabe quando chegará ao Porto de Suape.

Mesmo assim, o órgão já está monitorando as cargas. O Ministério Público Federal foi acionado, na sexta-feira, pelas autoridades que investigam o caso. Amanhã, um procurador deve assumir as apurações e tomar as decisões legais contra os responsáveis.

O primeiro contêiner com o lixo hospitalar proveniente dos Estados Unidos foi descoberto pela Receita Federal na terça-feira passada(11/10). Nos documentos da importação, a carga era descrita como "tecido de algodão com defeito". Um dia depois, um novo contêiner, com carga semelhante, envolvendo as mesmas empresas na exportação e na importação, foi identificado.

Juntos, eles somam um volume de 46,6 toneladas de lixo hospitalar. Além dos lençóis, havia toalhas de banho, cateteres, luvas e seringas. A carga foi inspecionada e lacrada pela Anvisa. Pedaços dos panos infectados chegaram a ser vendidos, durante a semana, à população de Santa Cruz do Capibaribe, onde fica a sede da empresa importadora. As autoridades ainda estão analisando se o material será incinerado ou enviado de volta aos Estados Unidos.

Antes do esquema ser descoberto pela Receita Federal, nesta semana, a empresa Na intimidade conseguiu importar pelo menos, e apenas neste ano, seis contêineres contendo a mesma descrição. É provável que a confecção, que tem apenas um ano e seis meses de funcionamento, tenha vendido lixo hospitalar em forma de roupas desde o início de suas atividades. A Receita rastreará toda a movimentação da empresa para tentar descobrir outras importações irregulares.

Da parte das autoridades sanitárias, a maior preocupação é o risco de contaminação caso os tecidos não tenham sido esterilizados de forma adequada antes de serem reutilizados pelas pessoas. O contato direto com o material pode propiciar o contágio de doenças como hepatite A e B. Sem contar alguns vírus e bactérias resistentes a lavagens com produtos agressivos, como soda cáustica.

Indústria

Tanto Santa Cruz do Capibaribe quanto Toritama estão inseridas no polo de confecções de Pernambuco, conhecido nacionalmente. Embora o forte seja a produção com malha, o jeans, as roupas de cama, mesa e banho, além de trajes de praia, têm grande espaço nas confecções da localidade. A pujança da indústria têxtil da região, entretanto, é responsável, também, pela contaminação do meio ambiente. O Rio Capibaribe sofre com o processo de lavagem, tingimento e descoloração dos jeans. Muitos turistas vão ao polo, no agreste pernambucano, para comprar peças a preços mais baixos.

Proibição

Uma resolução editada em 2004 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a reciclagem de lixo hospitalar. O material encontrado nos contêineres e agora no depósito da empresa importadora foi lacrado para ser avaliado quanto ao risco sanitário. Inspiram preocupação, além dos lençóis sujos de sangue, seringas, máscaras, luvas cirúrgicas, cateteres e gaze. Finalizada a perícia, a Anvisa repassará um laudo à Receita Federal para providências judiciais contra os responsáveis e envolvidos na importação fraudulenta do lixo hospitalar, proibida por uma lei federal.

Fonte: O Imparcial
Edição: Cícero Ferraz

Nenhum comentário:

Postar um comentário