segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Gaddafi será enterrado na terça-feira em local secreto do deserto líbio


O ex-ditador líbio Muammar Gaddafi será enterrado na terça-feira (25), em uma cerimônia simples, com a presença de clérigos muçulmanos, e num local secreto no deserto da Líbia, informou o CNT (Conselho Nacional de Transição), órgão político do governo de transição atualmente no poder.

"Ele será enterrado amanhã em um funeral simples. Será em um local desconhecido no deserto", disse a fonte por telefone à agência de notícias Reuters.

A fonte acrescentou que a decomposição do corpo atingiu tal ponto que o cadáver não durará por muito tempo.

"Nenhum acordo foi alcançado para sua tribo levá-lo", acrescentou. Questionado se o filho de Gaddafi, Mutassim, seria enterrado no mesmo local, o funcionário do CNT confirmou.

Mais cedo, uma equipe de TV informou à Reuters que os cadáveres do ex-ditador líbio Muammar Gaddafi, de seu filho Mutassim e de um ex-combatente do Exército foram removidos da câmara frigorífica em Misrata para um local desconhecido.

A equipe visitou nesta segunda-feira o local onde os corpos ficaram expostos para visitação pública durante quatro dias e afirmou que j

á estava vazio.

Uma fonte líbia em Misrata confirmou que os restos mortais foram removidos, mas se recusou a dizer para onde foram levados ou onde seriam enterrados.

EXPOSIÇÃO


No início desta segunda-feira, líbios ainda visitavam os restos mortais de Gaddafi, de seu filho Mutassim e de um ex-comandante do Exército em uma câmara frigorífica de um mercado na cidade de Misrata, para onde foram levados depois de sua captura e morte, na quinta-feira, em Sirte, cidade-natal do ex-ditador.

Os corpos, que ficaram em exposição pública por quatro dias, já apresentavam sinais de decomposição, enquanto facções locais decidiam como sepultá-los.

Os responsáveis pela guarda colocaram sacos plásticos sob os corpos por causa do vazamento de fluidos, e entregam máscaras cirúrgicas aos visitantes, para que se protegessem do mau cheiro.

Gaddafi e seu filho foram capturados vivos, mas morreram em seguida, em circunstâncias não esclarecidas. Mas poucos líbios parecem preocupados em saber como eles foram mortos, ou por que passaram tanto tempo expostos, contrariando a tradição islâmica que prevê o sepultamento no prazo de um dia.

DESTINO

"Deus fez do faraó um exemplo para os outros", afirmou Salem Shaka, que visitou os corpos na segunda-feira. "Se ele tivesse sido um homem bom, já o teríamos sepultado. Mas ele próprio escolheu o seu destino."

Outro homem, que contou ter viajado 400 quilômetros para ver os corpos, disse: "Vim aqui ter certeza com os meus olhos. Todos os líbios precisam vê-lo".

O assassinato de ditadores derrubados não é novidade. Na Europa, o mesmo aconteceu no século 20 com o romeno Nicolae Ceausescu, em 1989, e com o italiano Benito Mussolini --criador da Líbia moderna, como colônia italiana--, em 1945.

Mas alguns aliados estrangeiros do novo regime líbio manifestam desconforto com a maneira como Gaddafi foi tratado após ser capturado e depois de morto, e temem que os novos líderes do país não estejam cumprindo sua promessa de respeitar os direitos humanos.

SUSPEITAS DE EXECUÇÃO

A análise de novos vídeos divulgados na sexta-feira (21) sobre os momentos finais do ex-ditador da Líbia reforçam as suspeitas de que ele tenha sido executado pelos rebeldes, afirma o blog "The Lede", do jornal americano "The New York Times".

"Embora seja difícil determinar a exata cronologia de todos os vídeos postados online nas últimas 36 horas, as primeiras imagens do coronel Gaddafi após ser capturado parecem ter sido feitas por Ali Algadi, um combatente rebelde, com um iPhone. Algadi disse ao site americano de notícias GlobalPost, que obteve e publicou este vídeo, que ele começou a gravar apenas alguns segundos depois que o líder foi arrastado de um duto de esgoto sob uma uma estrada em Sirte na quinta-feira", afirma o blog.

NOVA LÍBIA

Num dia histórico, o
 líder do CNT, Mustafa Abdel Jalil, anunciou neste domingo em Benghazi a "libertação" da Líbia, três dias após a morte de Gaddafi. A cúpula dos opositores que tomaram o poder declarou, de forma oficial, o fim da ditadura de 42 anos que controlou o país com mão de ferro.

Jalil agradeceu a Deus pelo sucesso da revolução, que segundo o líder começou de forma pacífica. Após encontrar a violenta resistência do regime, no entanto, não houve outra opção a não ser o combate, explicou.

Logo no início de seu discurso, pediu à multidão que não disparasse tiros ao alto em comemoração, devido ao perigo de ferimentos a civis, ressaltando que é hora de desarmar a população.


O líder destacou a importância de todos os mártires da revolução e agradeceu ainda a ajuda dos países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que atuaram "de forma sofisticada e avançada", e deixou claro que o país usará a sharia (lei islâmica) e todas as leis em vigência que forem contrárias aos códigos islâmicos serão canceladas.

TRANSIÇÃO EM CINCO ETAPAS

Ontem (23), o premiê interino da Líbia, Mahmoud Jibril, disse que o país deve ter um novo governo de transição dentro de um mês, com a responsabilidade de organizar, num período de até oito meses, as eleições que montarão um congresso para criar a nova Constituição líbia.

O plano de transição no país inclui cinco etapas.


A primeira compreende a provável renúncia de Jibril ao cargo neste domingo, após o anúncio oficial de libertação da Líbia na cidade de Benghazi.

Nas próximas semanas um novo governo provisório será estabelecido, e na terceira etapa, em até oito meses, eleições devem ser realizadas para a formação de um congresso, mesmo que provisório, descrito pelo líder ontem como "uma espécie de Parlamento".

"O chefe deste novo Parlamento, quando eleito, será o presidente interino ou provisório do país", explicou.

No quarto estágio este comitê criará uma nova Constituição e ajudará a organizar as primeiras eleições presidenciais livres e democráticas após o fim do regime do ex-ditador Muammar Gaddafi, que ficou no poder durante 42 anos, finalizando a última etapa da transição: a criação de um governo constitucional livre e democraticamente eleito.

Jibril disse que não pretende concorrer a cargos políticos e destacou a importância de que os rebeldes agora voltem as suas cidades e "deem as mãos para a missão de reconstruir o país deles".

"Queremos passar por todas essas etapas o mais rápido possível para que a vida democrática na Líbia comece logo e que o desenvolvimento possa ocorrer", avaliou.


Edição: Cícero Ferraz

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