"Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos à mesa", declarou a presidente.
BRASÍLIA - A presidente da República, Dilma Rousseff, afirmou em seu discurso de posse, neste sábado (1º), no Congresso Nacional, que "a luta mais obstinada" do novo governo será "a erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos". "Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos à mesa", declarou.
Antes, no início da fala de cerca de 40 minutos pontuada por alguns momentos de emoção, a presidente disse que terá como "compromisso supremo" durante o mandato "honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos".
Ela reafirmou a defesa da liberdade de culto e de imprensa, disse que a corrupção "será combatida permanentemente" e que estende a mão aos partidos de oposição. "A partir deste momento, sou a presidente de todos os brasileiros", declarou. Ao pronunciar essa frase, com a voz embargada, Dilma se emocionou, sem chegar a chorar, e recebeu aplausos.
Dilma também fez menção aos companheiros de militância de esquerda nos anos de regime militar: "Divido com companheiros de luta que tombaram no caminho essa conquista e rendo a eles minha homenagem."
Mulheres, Lula e Alencar
Dilma abriu o discurso saudando as autoridades presentes e em seguida destacando a condição de mulher. "Pela primeira vez, a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher", afirmou, interrompida por aplausos.
A presidente disse que a eleição dela significou "abrir portas para que muitas outras mulheres, no futuro, possam ser presidentas".
Em seguida, agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem sucede, e prestou uma homenagem "ao nosso querido vice-presidente José Alencar", que, internado em um hospital de São Paulo, não compareceu à posse.
Sobre Lula, disse que é o "presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar no futuro". Sobre Alencar, afirmou que é um "exemplo de coragem e amor à vida".
Economia
Dilma abordou o momento econômico pelo qual passa o país, afirmando que "vivemos um dos melhores períodos da vida nacional", destacando o fim de "um longo período de dependência do FMI [Fundo Monetário Internacional]".
"Reduzimos a nossa dívida social, resgatando milhares de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros a alcançar a classe média, mas sempre é preciso buscar mais", declarou. "Só assim poderemos provar aos que lutam para sair da miséria, que, com a ajuda do governo, eles podem deixar a miséria."
A presidente destacou a necessidade de reformas "para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e fortalecer as instituições".
Segundo ela, "para dar longevidade" ao crescimento, será necessário manter a estabilidade de preços. Para a presidente, é "inadiável" um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade. "O uso intensivo da tecnologia da informação deve estar a serviço de um sistema de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte", disse.
Ela defendeu a valorização do parque industrial brasileiro e o estímulo à exportação. "O apoio aos grandes exportadores não é incompatível com a agricultura familiar e as pequena empresas", afirmou.
Ela também destacou que pretende acelerar a criação de "milhares" de vagas e estender a experiência do ProUni para o ensino médio e profissionalizante.
"Nas últimas décadas o Brasil universalizou o ensino fundamental, mas é preciso melhorar a qualidade", afirmou.
Saúde
Dilma afirmou que acompanhará "pessoalmente" as ações do governo na área de saúde.
"Vou usar a força do governo federal para acompanhar a qualidade do serviço prestado", declarou a presidente, que anunciou que fará parcerias com o setor privado.
Segurança
Dilma destacou no discurso o exemplo das ações nas favelas do Rio de Janeiro ao falar sobre segurança. "O Estado do Rio mostrou o quanto é importante a ação coordenada das forças de segurança", afirmou.
Sobre as disputas comerciais com outros países, afirmou que o governo dela não tolerará o protecionismo. "Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos", declarou.
Copa e Olimpíada
De acordo com a presidente eleita, os investimentos previstos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016 serão feitos com o objetivo de gerar "ganhos permanentes". "É preciso melhorar o transporte aéreo para a Copa e os Jogos Olímpicos", exemplificou.
Educação
Ao falar de educação, Dilma procurou valorizar a figura do professor. Disse que só existirá ensino de qualidade "se professores forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólidos compromissos com a educação dos jovens".
Ela afirmou que buscará maior capacitação em inteligência e controle das fronteiras e reiterou o compromisso de campanha do combate às drogas, principalmente o crack, "que aflige muitas famílias brasileiras".
Pré-sal
Sobre as descobertas das jazidas de petróleo na camada pré-sal, afirmou que terá "a responsabilidade de transformar a riqueza de pré-sal em poupança de longo prazo".
"Estamos vivendo apenas o início de uma nova era. Pela primeira vez o Brasil vê a chance de se tornar uma nação desenvolvida", disse.
Cultura
"Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões, expandindo a exportação de nossa música e literatura."
Meio ambiente
"Considero uma missão sagrada do Brasil mostrar ao mundo que é possível crescer aceleradamente sem destruir o meio ambiente. Seremos os campeões mundiais de energia limpa, o etanol e as energias alternativas terão grande estímulo."
Política externa
"Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da diplomacia brasileira, entre eles a defesa dos direitos humanos e do multilateralismo."
Guimarães Rosa
A presidente encerrou o discurso fazendo referência a trecho de um poema do - como ela - mineiro Guimarães Rosa:
"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem
Fonte: http://www.g1.com.br/
Edição: Cícero Ferraz
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